terça-feira, 25 de setembro de 2012


A crise econômica internacional fez com que, nos últimos anos, diversas empresas concentrassem seus investimentos e esperanças no Brasil. O país, antes visto pelas corporações como salvação, no entanto, não trouxe o retorno esperado.

Uma das consequências disso é o aumento de 31% nas posições executivas abertas nas regiões Sul e Sudeste no primeiro semestre de 2012 (1611 vagas), na comparação com o mesmo período do ano passado (1226 vagas). Como a maior parte dessas posições é de substituição de executivos em cargos já existentes nas estruturas, isso demonstra que as companhias estão mais preocupadas em fazer ajustes do que em expandir.

Essa é uma das principais conclusões de um levantamento realizado pela consultoria Produtive, que possui escritórios em Porto Alegre e São Paulo. De acordo com Rafael Souto, CEO da Produtive, parte da culpa desse 'turnover' foi dos próprios executivos, que confiaram demais no crescimento do país e se comprometeram com resultados que não conseguiram entregar. "A crise lá fora e o destaque dos emergentes elevaram demais as expectativas das multinacionais aqui no Brasil. Os números abaixo do esperado, no entanto, pressionaram os dirigentes, e muitos acabaram sendo trocados", afirma.

O maior incremento ocorreu no alto escalão (48%), com destaque para a área administrativo/financeira, onde o número de posições abertas praticamente dobrou - o que evidencia uma preocupação maior no controle de custos e no enxugamento de estruturas para lidar com essa nova realidade.

De acordo com o especialista, isso ocorre em praticamente todos os setores da economia - a exceção fica por conta de áreas como engenharia, logística, industrial e manufatura. "A crise não é mais tão aguda quanto em 2008, mas a economia tende a ficar em um ritmo mediano por um bom tempo. Estamos vendo primeiro a troca dos 'técnicos'. Depois, se for o caso, vão começar a mexer também nos 'jogadores'", compara.

De acordo com Souto, no entanto, o problema nem sempre é o executivo que está sendo substituído, mas todo o processo que envolve essa movimentação. Ele destaca que o ciclo médio de um CEO em uma empresa é de três anos e meio no Brasil - o que ele considera muito curto.

Isso significa que, se por um lado as organizações adotam um discurso afiado sobre planejamento, sustentabilidade e visão de longo prazo, por outro ainda cobram resultados imediatos e até baseiam suas políticas de bônus neles. Na opinião do especialista, esse é o dilema do CEO do século XXI. "Ele, que deveria ter um olhar estratégico, acaba tendo que atuar de forma operacional. Obviamente é preciso tomar atitudes de impacto e retorno rápidos. Porém, é preciso ter tempo e tranquilidade no cargo para pensar, simultaneamente, o futuro da companhia", afirma Souto.

Publicado no Valor Economico

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